Rússia suspende exportações de gás para Polônia e Bulgária
A gigante de energia russa Gazprom informou que suspendeu as exportações de gás para a Polônia e a Bulgária devido à recusa dos países em pagar pelo seu fornecimento em rublos.
A empresa afirmou que os serviços não serão restaurados até que os pagamentos sejam feitos na moeda russa.
Tal acontecimento ocorreu depois que o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou que países “hostis” paguem pelo gás em rublos.
A Polônia confirmou que os suprimentos foram interrompidos, mas a Bulgária disse que ainda não está clara esta interrupção.
Os países pagam adiantado pelo gás, e como foram pagar pelo abastecimento futuro, a Rússia se manteve firme em sua exigência feita no mês passado de que novas compras precisariam ser pagas em rublos.
A ameaça, na qual Putin disse que “os contratos existentes serão interrompidos”, tem sido vista como uma tentativa de aumentar o rublo, que foi atingido por sanções ocidentais.
Nathan Piper, chefe de pesquisa de petróleo e gás da Investec, declarou à BBC que a interrupção do fornecimento para a Polônia e a Bulgária foi o “início da Rússia exercer pressão econômica sobre a Europa” e uma medida que pode “escalar” com outros países da UE.
O vice-ministro das Relações Exteriores da Polônia afirmou que o país poderia lidar sem o gás da Gazprom e “tomou algumas decisões há muitos anos para se preparar para tal situação”.
Marcin Przdacz disse à BBC que existem “opções para obter o gás de outros parceiros”, incluindo os EUA e os países do Golfo.
“Tenho certeza de que conseguiremos lidar com isso”, disse ele à BBC.
A empresa estatal polonesa de gás PGNiG, que comprou 53% de suas importações de gás da Gazprom no primeiro trimestre deste ano, descreveu a suspensão como uma quebra de contrato, acrescentando que a empresa tomaria medidas para restabelecer o fornecimento de gás.
Enquanto isso, em Sofia, o ministro da Energia, Alexander Nikolov, disse que a Bulgária pagou as entregas de gás russo para abril e afirmou que a Gazprom violará seu contrato atual se interromper o fluxo.
“Como todas as obrigações comerciais e legais estão sendo observadas, está claro que no momento o gás natural [russo] está sendo usado mais como uma arma política e econômica na guerra atual”, disse Nikolov.
A Bulgária, que depende da Gazprom para mais de 90% de seu fornecimento de gás, disse que tomou medidas para encontrar fontes alternativas, mas atualmente não são necessárias restrições ao consumo de gás.
O diretor executivo da operadora de rede de gás búlgara Bulgartransgaz informou que os suprimentos para a Bulgária ainda estão fluindo.
A Bulgária também transporta gás russo por meio de uma extensão do gasoduto Turk Stream para a vizinha Sérvia e de lá para a Hungria. A Hungria e a Áustria também disseram que o fornecimento de gás estava normal.
O primeiro-ministro da República Checa, Petr Fiala, disse que o país não tem sinais ou informações sobre qualquer interrupção no fornecimento de gás, mas deve estar preparado para qualquer cenário.
O país da Europa Central é quase inteiramente dependente da Rússia para seu gás.
O principal parlamentar da Rússia disse na quarta-feira que a gigante do gás Gazprom tomou a decisão certa ao suspender o fornecimento de gás para a Bulgária e a Polônia e afirmou que Moscou deveria fazer o mesmo com outros países “hostis”.
“O mesmo deve ser feito em relação a outros países que são hostis a nós”, escreveu Vyacheslav Volodin, presidente da câmara baixa do parlamento russo, a Duma, em seu canal Telegram.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, disse que a Rússia está usando o gás “como instrumento de chantagem”.
“Isso é injustificado e inaceitável. E mostra mais uma vez a falta de confiabilidade da Rússia como fornecedora de gás”, disse ela.
Von der Leyen afirmou que a UE está “preparada para esse cenário” e está “trabalhando para garantir entregas alternativas e os melhores níveis de armazenamento possíveis em toda a UE”.
Piper, da Investec, disse à BBC que a interrupção do fornecimento para a Polônia e a Bulgária foi o “início da Rússia exercer pressão econômica sobre a Europa”.
Segundo Piper, apesar da demanda por gás em declínio à medida que a Europa entra no verão, “os riscos em torno do fornecimento de gás russo estão mantendo os preços altos, pressionando os consumidores e a indústria”.
O movimento mais recente da Rússia elevou ainda mais os preços do gás europeu na quarta-feira, subindo 24%.
O decreto de Putin para pagamentos de gás significa que os compradores estrangeiros de gás russo têm que abrir uma conta no Gazprombank da Rússia e transferir euros ou dólares americanos para ele.
O Gazprombank converteria o pagamento em rublos, os quais seriam usados para fazer o pagamento do gás.
O vice-primeiro-ministro do Reino Unido, Dominic Raab, disse anteriormente à Sky News que a decisão de cortar o fornecimento de gás terá “um efeito muito prejudicial para a Rússia”, acrescentando que tais medidas podem levar o país a se tornar “um pária econômico”.
Após o anúncio da Rússia, o Ministério do Clima da Polônia disse que o fornecimento de energia do país estava seguro.
A ministra do Clima, Anna Moskwa, declarou que não há necessidade de extrair gás das reservas e que o gás para os clientes não será cortado.
A Polônia já planejava parar de importar gás russo até o final do ano, quando seu contrato de fornecimento de longo prazo com a Gazprom expirasse.
A PGNiG informou que seu armazenamento subterrâneo de gás estava quase 80% cheio e, com a aproximação do verão, a demanda foi menor.
A Polônia também tem fontes alternativas de abastecimento, incluindo um terminal de gás natural liquefeito (GNL) em Swinoujscie.
Em 1 de maio, também está prevista a abertura de uma nova conexão de gasoduto com a Lituânia, que dará à Polônia acesso ao gás do terminal de GNL da Lituânia.
E um novo gasoduto que fornece gás da Noruega, conhecido como “Baltic Pipe”, entrará em operação em outubro e deverá atingir a capacidade total até o final do ano, podendo substituir todas as entregas russas.
Os fornecimentos da Rússia representam cerca de 40% das importações de gás natural da UE.
No entanto, muitos países se comprometeram a se afastar da energia russa em resposta à invasão na Ucrânia.
Os EUA declararam a proibição completa das importações russas de petróleo, gás e carvão.
Enquanto isso, o Reino Unido deve eliminar gradualmente o petróleo russo até o final do ano, e em seguida o gás o mais rápido possível, e a UE está reduzindo as importações de gás em dois terços.
Fonte: BBC