A Ernst & Young – uma das maiores empresas de auditoria do mundo – deverá pagar uma multa de US$ 100 milhões depois que reguladores de valores mobiliários dos EUA descobriram que alguns de seus auditores haviam trapaceado em testes de ética, e a empresa reteve evidências de má conduta, ou seja, não impediram tal prática. A pena é a maior já aplicada pela Securities and Exchange Commission contra uma empresa de auditoria.

Ernst & Young é multada em US$ 100 milhões por trapacear em testes de ética
“É simplesmente ultrajante que os próprios profissionais responsáveis por pegar trapaças de clientes, trapacearam nos exames de ética de todas as ações”, disse o diretor de fiscalização da SEC, Gurbir Grewal.
Em comunicado, a Ernst & Young admitiu as acusações da SEC e informou que está cumprindo a pena da agência.
“No passado, tomamos medidas repetidas e consistentes para reforçar nossa cultura de conformidade, ética e integridade”, declarou Suzanne Bouhia, porta-voz da empresa, por e-mail. “Continuaremos a tomar ações abrangentes, incluindo medidas disciplinares, treinamento, monitoramento e comunicações que fortalecerão futuramente ainda mais nosso compromisso.”
A agência descobriu que, a partir de 2017, 49 profissionais da Ernst & Young compartilharam ou receberam respostas a exames de ética, visto que precisavam ser aprovados para serem licenciados como contadores públicos certificados. Centenas de outros trapacearam nos cursos que precisavam ser feitos para manter suas posições nos conselhos estaduais de supervisão, enquanto outros que não participaram ajudaram a facilitar a ação, informou a SEC.
Os líderes da empresa então encobriram a atividade, deixando de denunciá-la à SEC depois que a agência perguntou à Ernst & Young sobre as reclamações recebidas, com isso a SEC lançou uma investigação interna em que foi confirmada a má conduta. A multa recorde – o dobro da conta de US$ 50 milhões que a rival KPMG pagou à agência em 2019 por seu próprio escândalo de trapaça – reflete em parte à gravidade da decisão da empresa de não cooperar com a investigação, informou um funcionário da SEC a repórteres.
Grewal, em sua declaração, disse que é “igualmente chocante que a Ernst & Young tenha impedido nossa investigação dessa má conduta. Essa ação deve servir como uma mensagem clara de que a SEC não tolerará falhas de integridade por auditores independentes que escolhem o caminho mais fácil em vez do mais correto.”
Além da multa, a SEC está exigindo que a Ernst & Young contrate dois consultores independentes; um para revisar as políticas de ética e integridade da empresa e outro para investigar sua falha em divulgar suas próprias descobertas.
Contudo, não é a primeira vez que os auditores da Ernst & Young são pegos trapaceando. De 2012 a 2015, uma investigação interna descobriu que mais de 200 funcionários exploraram uma falha de software na plataforma de testes da empresa para trapacear nos exames, disse a SEC.
Na época, a empresa tomou medidas disciplinares contra esses funcionários e alertou sua força de trabalho contra esses atalhos. “Nossa resposta a esse comportamento inaceitável foi completa, extensa e eficaz”, afirmou Bouhia.
Segundo a porta-voz da Ernst & Young, os novos requisitos que a SEC está impondo à empresa “reforçarão as medidas que já impusemos desde que essas situações ocorreram”.
A Ernst & Young é a terceira maior empresa de contabilidade do mundo e registrou uma receita global de US$ 40 bilhões em seu último ano financeiro, encerrado em junho de 2021.
Fonte: The Washington Post